aprender depois dos 30
#16 -- hábitos, erros, medos, processos & resultados
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Hoje é feriado, aniversário de 16ª edição dessa queridona newsletter e, de quebra, estou chegando ao final do primeiro módulo da formação em Pintura! Dá pra acreditar? Eu, que não sabia desenhar nem mesmo bonecos de palitinhos estou oficialmente iniciada nos fundamentos do desenho artístico. Que vida doida, cara.
Foram meses intensos e a cada semana eu literalmente não sabia o que esperar — das aulas e de mim. Aprender algo novo é diferente de se comprometer a aprender algo novo, e manter o compromisso comigo (e com meu querido professor Laerte) tem sido desafiador de verdade já que, não raramente, me peguei sendo engolida por sentimentos extremos de que-delícia-olha-o-que-eu-fui—capaz-de-fazer a o-que-tá-acontecendo-socorro.


Resolvi então fazer um mini inventário das pequenas-grandes coisas que aprendi com a arte, com a vida & escrevendo pra vocês até aqui. Talvez seja o clima iluminado das festas de fim de ano — ou o quanto 2024 foi um ano dificílimo para mim — mas tenho me empenhado muito em reconhecer as miudezas de meus avanços.
A partir daqui, te recomendo fortemente dar o play na Nik West para entrarmos no clima juntas.
os hábitos
Se a ideia fosse criar um top 3 dos maiores impactos que vivenciei nesse período, com certeza meus hábitos estariam no topo da parada. Chega a ser impressionante o quão fundamental torna-se a nossa rotina — ou seja, as milhares de micro escolhas que fazemos diariamente — a partir do momento que aceitamos o desejo e assumimos o compromisso de um novo aprendizado.
A qualidade do sono, a profundidade do descanso, o nível de força física, a hidratação corporal, as escolhas alimentares… Tudo parece influenciar diretamente, facilitando e/ou dificultando a nossa capacidade de assimilar novos conteúdos ou desenvolver novas habilidades.
Mas, mais do que isso, comecei a sentir necessidade de mexer em padrões extremamente enraizados — como, por exemplo, o uso da mão dominante na execução de quase todas as atividades cotidianas. Os movimentos majoritariamente corporais que andei praticando nos últimos meses (como desenho, pintura e até mesmo a musculação) têm me tirado de uma zona conhecida e confortável ao mesmo passo em que incomodou meu cérebro quase como que tateando-o com as pontas dos dedos nos lugares que, até o auge de meus 33 anos, encontravam-se adormecidos.
Foi assim que descobri sobre os tais “lados do cérebro”*1 — lógico e criativo. Para quem passou toda a vida raciocinando e refletindo sobre as coisas, buscando palavra por palavra para defini-las da melhor maneira possível, ser conduzida ao exercício de simplesmente parar de pensar parece assustador (e foi mesmo).
Mas junto com a estranheza, veio também a oportunidade de enxergar a vida com outros olhos; olhos que julgam menos e admiram mais, que substituem a busca da lógica pela busca da emoção, que veem mais beleza no imperfeito do que na simetria.
E garanto: a forma como enxergamos a vida ao redor é habitual e pode ser destruída, assentada e refinada se formos capazes de transpassar o incômodo inevitável de romper com velhos padrões.
os medos
O desconhecido causa medo. Esses dias li em algum lugar que a antítese do medo é o conhecimento e eu não poderia concordar mais. Não é à toa que sentimos o coração disparar e o estômago revirar quando estamos diante do “não saber” — pode ser um primeiro encontro, uma entrevista de emprego, a primeira vez que você compartilha seus desenhos com o mundo, a notícia de uma gravidez.
E agora?
E mesmo tendo experimentado novas formas de medo ao longo desse processo, percebi que perdi (ou afugentei) um deles: o medo de parecer boba.
Me lembro, quando adolescente, do pavor que sentia só de me imaginar passando vergonha em público (leia-se errando em público), sendo exposta ou expondo minhas vulnerabilidades. Chorar na frente de outras pessoas? Que horror.
Mas horror mesmo era ser adolescente, deusas me livrem.
Hoje, estou numa sala vendo meus desenhos serem corrigidos em público, semana após semana, e acho isso o máximo porque sou acolhida por outras alunas e ainda sou contemplada com seus olhares refinados e sugestões criativas. Me sinto animada para compartilhar com as amigas(os) cada objeto, cada poltroninha ou vaso de plantas que sou capaz de desenhar. Dedico horas contando pro marido o que aprendi sobre limpa-tipos ou alto contraste. Escrevo publicamente sobre minhas inseguranças e emoções porque sei que nenhuma experiência nessa vida é individual.
Não me importo com o que outras pessoas vão pensar, apenas aproveito cada garfada dessa sobremesa que tem sido me divertir em vez de me cobrar. Recomendo.
os erros
O deconforto e o manejo dos medos tem me levado arriscar mais e, por consequência, errar mais também. Afinal, as borrachas existem para nos lembrar que comete(re)mos erros.
Tenho recorrido muito a ela, usado e quase abusado de sua habilidade de consertar minhas linhas tortas, minha perspectiva mal calculada, minhas formas geométricas que dão origem a praticamente tudo. Saber que posso recorrer à sua magia quando me equivocar por um instante me impulsiona a fazer e fazer e fazer.
Mas, em se tratando de desenhos, aprendi também que apagar demais, repetidas vezes, pode comprometer a qualidade do papel e, consequentemente, o resultado final. Ou seja, é preciso errar melhor, suavizar a tensão do grafite, recorrer a traços mais finos e fazer escolhas mais intuitivas.
Qualquer semelhança com a arte de viver não é mera coincidência.
os processos
Recentemente, lembrei-me de uma situação que vivi há alguns anos e me marcou pra sempre. Não vou entrar em detalhes sobre a circunstância em si porque acredito que ela mereça uma newsletter inteira só para ela, mas a ideia central é a seguinte: passei literalmente 6 meses de dias ininterruptos me preparando para alcançar um objetivo que, quando obtido, durou uma alegria de aproximadamente 10 segundos.
“Que demais, consegui!”, coloquei minha roupa, peguei meu café e fui trabalhar. Como em todos os outros dias.
Na época, não percebi como a minha própria banalidade tinha sido tão violenta comigo. Eu merecia sentir um pouco mais, celebrar um pouco mais, internalizar um pouco mais o quanto era capaz de fazer coisas difíceis, mas não foi isso que fiz. Segui a vida como se não tivesse feito nada além da minha obrigação.
Anos mais tarde, me veio essa epifania do quanto o processo das coisas carrega consigo tudo o que verdadeiramente importa, mas nos ocupamos demais com o “chegar lá”. E sei que “chegar lá” é muito bom, é bom demais, mas prometi pra mim que não esperaria mais “chegar lá” pra ser feliz; seria um pouquinho feliz também durante o processo, nos dias difíceis e pouco glamurosos em que tudo o que temos é um um coque na cabeça, um moletom confortável e um sonho.
Aprender a desenhar é um processo longo e que exige paciência. No início, parece que nada faz sentido ou ficará bom, tudo são linhas, manchas, formas orgânicas que talvez não digam nada. E então você refina as técnicas, ajusta as sombras, ilumina o que precisa ser iluminado, destaca o volume e, de repente, como mágica, o imaterial ganha significados e significantes.
É preciso, entretanto, respeitar esse processo e reconhecer a importância de cada etapa porque qualquer coisa diferente disso interfere no resultado final esperado.
os resultados
E falando em resultado final esperado, percebi, por fim, que o aprendizado na vida adulta nos proporciona resultados mais expressivos.

Em pouquíssimas aulas consegui desenvolver coisas que jamais teria imaginado ser capaz, e não porque é mais fácil aprender algo novo quando somos adulta — pelo contrário, todos os estudos que encontrei dizem que as crianças têm mais facilidade para absorver novos conhecimentos por motivos de cérebro em formação, tudo novinho em folha2.
A real é que meu comprometimento foi infinitamente maior e mais focado em fazer o que fosse possível, não o que fosse perfeito. A maturidade nos torna humildes com o que não sabemos e mais dispostas a ouvir a sabedoria do outro, e isso nos desenvolve enquanto artistas e engrandece enquanto seres humanos.
Se você está em busca de visualizar resultados mais expressivos em qualquer coisa que lhe seja realmente importante, talvez possa começar se comprometendo com o pouco, respeitando as inevitáveis etapas do processo e errando cada vez melhor. Que tal, aceitas? 🧭
o convite
Durante as próximas semanas, eu talvez fique mais saudosa, reflexiva e cheia de projetos novos, porque é isso que a energia da virada de ano causa em mim — por mais que esteja ciente que dividir a vida em fatias é apenas uma ilusão.
Mas gosto de aproveitar esse período para revisitar algumas situações, revisar meus projetos, fazer novos planos e me entusiasmar com o fato de estar viva.
Te convido então a fazer o exercício de pensar em algo que você gostaria muito de aprender mas nunca teve a oportunidade até aqui: tocar um instrumento musical? Aulas de yoga? Cerâmica? Pintura em aquarela? Aulas de francês? Tudo é válido e será ainda mais legal se essa nova habilidade não estiver relacionada a trabalho.
Anote. Anote também o porquê isso é genuinamente importante pra você.
Agora pense em como você poderia materializar esse desejo com as condições que têm hoje: uma aula experimental? Projetos a preços sociais? Uma amiga que pode te ajudar a começar? Comunidades e coletivos sobre o assunto? Pense em como é possível dar vazão a esse desejo e vê-lo se tornar parte da sua vida, parte de você.
Deixo aqui o meu convite pra que você sonhe um pouco mas, sobretudo, perceba que é capaz de começar a realizar também.
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para aproveitar o feriado
Semana passada, a deusa Erykah Badu esteve fazendo shows aqui no Brasil e estou no meu momento de completa obsessão por ela. Se você ainda não conhece o trabalho artístico maravilhoso que ela cria dentro e fora dos palcos, recomendo que você comece ouvindo esse álbum aqui.
Estou na última temporada de Grace & Frankie e já sinto saudades.
Finalmente fui ao teatro ver King Kong Fran e a Rafaela é umas das mulheres mais geniais que já conheci. Essa entrevista dela, inclusive, comprova isso.
Circe, da autora Madeline Miller, é minha leitura atual e, mesmo sem ter finalizado o livro ainda, já posso afirmar que é uma das melhores coisas que li na vida! Tá de graça no Kindle Unlimited.
A nossa playlist no Spotify segue sendo atualizada toda semana. Já salvou na sua biblioteca musical?
Obrigada pela companhia,
Com amor,
A ideia de que o cérebro tem lados esquerdo e direito, com funções diferentes, já é considerada um mito. No entanto, é possível que algumas funções cerebrais estejam mais relacionadas a um dos hemisférios, sendo o lado esquerdo mais analítico, ligado ao raciocínio lógico e o direito mais sensorial, ligado às emoções, à criatividade e à intuição.
Cientificamente chamado de neuroplasticidade.







